quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Chamada do 2º Encontro Internacional Xamânico


Quem é a Mulher Beija-flor

Eu acreditava que diminuindo a dor do outro, aplacaria minha própria dor. Eu tinha 12 anos e abracei “o amor ao próximo” como meu lema de vida. Saía de porta em porta pedindo roupas usadas para poder distribuir entre os pobres. Eu também cantava pra Deus, pra Mãe de Deus e achava que estava curando o mundo. Um dia, eu deixei tudo de lado e tentei viver uma vida como a das minhas colegas de escola: festas, modas... mas não deu. Eu preferia ficar no banheiro das discotecas, ajudando as meninas que não agüentavam beber. Eu achava que estava curando o mundo.

Daí, aconteceu que eu me perdi. Já não acreditava em nada e tentei me ferir de todos os jeitos, pra poder sentir alguma coisa. Eu encontrei os parapsicólogos que me ensinaram a curar com as mãos e eu tentei curar a mim e aos outros. Eu achava que estava curando o mundo.

Depois foram os meninos de rua que se apresentaram. As intermináveis reuniões sociais, a luta política, as discussões unilaterais. Tantas crianças sofrendo, tantos futuros se perdendo na ponta de uma faca ou na ponta de um caco de vidro. Corrupção, medo e tristeza. Eu me desesperei. Mas eu achava que estava curando o mundo.

A vida me jogou num turbilhão de mudanças e os ventos me levaram pro Canadá, pros índios de lá. Aprendi a rezar pela terra e a respeitá-la. Na verdade, não aprendi. Relembrei os ensinamentos das mulheres de minha família. Vieram as fogueiras, os ritos de passagem, os tambores, as viagens... E eu achava que estava curando o mundo.

Não sei se quem está triste e sem fé sofre mais ou menos do que alguém que tem fome e está perdido. Aprendi que não há um sofrimento maior que o outro e sim, a força ou a fraqueza de quem sofre. Para empoderar os seres com que cruzavam a minha caminhada, eu escolhi seguir ajudando. Não sei se estou curando o mundo. Só sei que estou tentando me ajudar e ajudar ao outro a ser mais humana que posso.